17 de agosto de 2012

Chorar até dormir????


bebe-chorando

Houve uma época em que eu realmente achei que ia pirar por conta do sono dos meus filhos. Eu acreditava, com unhas e dentes, que eu nunca mais dormiria. E era um drama tão real, tão sofrido para mim, que quando alguém me falava os bordões “é natural“, “é só uma fase“, “vai passar“, eu chorava mais ainda por me sentir fraca. Se é tão natural, se é só uma fase e vai passar, que porcaria de pessoa eu sou que não consigo passar algumas noites sem dormir? Que tipo de ser humano eu sou que não consegue passar por um tipo de desafio, sobretudo pelas pessoas que eu mais amo no mundo: meus filhos?
E foram dias – e noites – de tormento. Como toda mãe de primeira viagem, eu me apeguei a todos os livros e artigos sobre o sono dos bebês e, claro, me deixei seduzir por aquele que dizia para deixar o pequenino chorando no berço, que garantia que na segunda ou terceira noite ele já estaria dormindo a noite inteira, sequinho, noite dos sonhos, tal prega a famosa marca de fralda. Pronto, a solução de meus problemas estava resolvida.
E só quem passa pela privação de sono é capaz de entender o teor disso que estou falando. Eu me sentia totalmente incapaz de fazer atitudes corriqueiras, como segurar Eduardo no colo enquanto ligava a torneira para encher a banheira na hora do banho.
Meus sentidos e meus reflexos ficaram tão atordoados que se me dessem uma tartaruga pra cuidar, fatalmente ela escaparia de mim a passos largos. Isso sem falar no aspecto emocional. Peraí, mas aspecto emocional? E mãe lá tem isso em pé? Sobretudo nos primeiros meses do bebê, quando os hormônios dançam em fúria, e temos a vida sacodida por um pequeno tufão, qualquer pudim de leite tem a consistência mais sólida que o nosso estado emocional.
Pois bem que um dia algum cidadão tem a feliz – e salvadora – ideia de me apresentar o livro “Nana, Nenê“. Não me lembro agora quem foi, mas aposto na mega sena que só pode ter sido uma mãe insone. E, bem, pronto, me apeguei àquilo como a última salvação da lavoura. Meu marido na época, que compartilhava em partes de meu calvário, aceitou aplicar o método na primeira página do livro.
E eis que começamos. Naquela noite, deixamos Eduardo chorando em seu berço por 2 horas e 45 minutos. Vocês entendem o que é isso? 2 horas e 45 minutos de um choro desesperado, molhado, bracinhos ao alto pedindo colo, mãozinhas batendo na grade do berço implorando um alento. Cada vez que me lembro dessa cena eu tenho algumas vontades: de bater em mim, por ter permitido aquilo a meu bebezinho, e uma culpa tão grande, que acho que os anos não vão apagar. Nessas mais de 2 horas eu voltei ao quarto, como manda o método, em todos os minutos, contados no relógio.
Se deu certo? Bem, depende do ponto de vista. Depois desse período todo, eu chorando desde a primeira hora de choro dele, comendo tudo o que restava de unha do lado de fora do quarto, completamente atordoada por aquele sofrimento, parei a brutalidade quando Eduardo, de tanto chorar, acabou vomitando no berço. Aquele foi um alerta de que eu estava violentando meu bebê e, sobretudo, a mim, aplicando algo que ia contra meus princípios e feria em mim todo o cuidado que eu tivera nesses 10 meses de vida de meu filhinho. A partir daquilo, peguei Dudu em meu colo, o ninei, o alimentei novamente e ele dormiu em meus braços, exausto de tanto chorar.
Mas, sim, se desconsiderarmos todos esses aspectos negativos, deu certo. Na noite seguinte, depois de dar a mamadeira (uma semana antes Dudu tinha deixado o peito e mamava na mamadeira), ele adormeceu no bercinho. Entretanto, esmagada pela culpa, eu não saí do lado dele e fiquei ali, dando tapinhas em seu bumbum até ele pegar no sono profundo.
E aí, depois disso tudo, na segunda gestação, de Luca, eu conheci o livro “Soluções para noites sem choro“, apresentado pela querida Aninha Medeiros (@avoqueria) e ele coroou ainda mais toda a culpa que eu sentia por aquela fatídica noite. A autora, Elizabeth Pantley, é veementemente contra os métodos de deixar a criança chorando no berço até dormir e argumenta de forma brilhante.
“Permitir que o bebê sofra de dor e medo até que ele desista e durma é cruel e, para mim, inimaginável”, diz Elizabeth em seu livro.
E ela usa argumentos de médicos, como Dr. Paul M. Fleiss e Frederick Hodges, sobre o treinamento de sono por meio do choro.
“Bebês e crianças pequenas são seres emocionais e não seres racionais. A criança não consegue compreender por que ignoramos seu pedido de ajuda. Ignorar o choro do bebê, mesmo com a melhor das intenções, pode levá-lo a sentir-se abandonado. Os bebês respondem a necessidades biológicas que os “especialistas” em sono ignoram ou negam.
 A abordagem mais sensata e carinhosa é responder imediatamente ao choro da criança. Lembre-se de que você é o pai e que uma de suas responsabilidades é dar ao bebê segurança e conforto. É um belo sentimento saber que você sozinho tem o poder de iluminar a vida de seu filho e eliminar todo o medo e a mágoa”.
Kate Allison Granju, diz:
Os bebês são seres extremamente dependentes, vulneráveis e desprotegidos. Seu bebê conta com você para cuidar dele com amor. Quando chora, está indicando – da única maneira que sabe fazer – que precisa de você ao lado dele.
Você sabe como é horrível chorar de medo ou angústia. E não é diferente para o bebê. Quando ele chora – por qualquer que seja o motivo – ele sente mudanças físicas. A pressão arterial aumenta, os músculos tornam-se tensos e os hormônios do estresse tomam conta de seu corpinho.
Bebês submetidos ao treinamento do sono por meio do choro, às vezes, parecem dormir profundamente, porque bebês e crianças pequenas geralmente caem em sono profundo após vivenciar traumas. Esse sono profundo não deve ser considerado prova de eficácia do método [do choro], mas, sim, evidência de uma de suas inúmeras consequências perturbadoras”.
Depois disso tudo e de escutar o meu coração, eu me neguei a aplicar o método de choro para Luca dormir. E olha que nesse aspecto Luca deu ainda mais trabalho que Eduardo, mas com ele eu aprendi a desenvolver muito mais a paciência e aceitar que os bebês têm um tempo de maturação e que dormir a noite toda é questão, para a maioria, de amadurecimento neurológico. No tempo certo – e esse bordão não é só conversa pra boi dormir – o bebê dormirá a noite inteira.
E Luca passou 1 ano e 3 meses, enquanto era amamentado, acordando 2, 3, 4 e até 5 vezes a noite. E por vários fatores que não apenas fome: necessidade de sucção, conforto, hábito de acordar. E durante todo esse tempo eu me mantive firme em minha teoria de não deixá-lo chorando no berço, apesar de ter períodos em que eu quase desistia. Chorei, sim, fiquei desesperada, fiz o #mimimi básico da mãe insone no twitter e no blog, li mais artigos e posts sobre o tema, conversei com outras mães a respeito. Mas, apesar de tudo isso, eu não me rendi.
E, então, como passe de mágicas, quando parei de amamentar, Luca começou a dormir a noite toda. Fiz um desmame bem tranquilo, porque tinha claro em mim que havia chegado a hora e que minha missão de alimentar meu filho tinha sido cumprida. Passei a dar o leite no copinho com bico – mas poderia ser na mamadeira, sem problemas, se ele aceitasse – às 20h, no meu colo, e o coloco no berço. Fico ao seu lado, batendo no bumbum até ele adormecer e, normalmente, tem ido até às 7h do outro dia.
Essa foi a nossa experiência e eu sinto-me muito, mas muito feliz, por ter deixado fluir em mim a conexão máxima com meu bebê e aceitar o fato de que tudo o que ele precisava de mim, na hora de dormir, era do meu carinho, do meu amor e do meu apoio para que conseguisse chegar ao amadurecimento para conseguir dormir a noite inteira.

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